Uma organização que admiro demais na Austrália é o Asylum Seeker Resource Centre (ASRC), instituição sem fins lucrativos que acolhe e dá toda assistência a refugiados e pessoas em busca de asilo. Ela começou como um projeto da TAFE (equivalente ao Senac no Brasil) em Melbourne, em 2001, quando o (então) professor (e hoje CEO) Kon Karapanagiotidis percebeu que na comunidade viviam diversos solicitantes de asilo sem apoio básico algum e criou um banco de alimentos administrado pelos estudantes.
Desde essa época, exceto em curtíssimos períodos, a situação dos refugiados e pessoas em busca de asilo só se deteriora na Austrália. Sobretudo na última década.
No pior estilo “Manter um inimigo em comum”, antiga estratégia política que consiste em promover a existência de um inimigo externo ou interno, real ou fabricado, para gerar medo e unir a população em torno de um objetivo comum com a intenção de desviar o foco de problemas maiores, essas duas populações altamente vulneráveis foram as escolhidas por certos grupos políticos para serem os bodes expiatórios de tudo de ruim que acontece no país. Algo que vemos mundo afora com mulçumanos, chineses, argelinos, nordestinos, mexicanos, ciganos, comunistas, e por aí vai. E, com o forte apoio dos principais meios de comunicação, a opinião pública compra facilmente a ideia.
Políticos demagogos e incompetentes como os ex-primeiros-ministros Tony Abbott e Scott Morrison, o atual líder da oposição Peter Dutton, e figuras da extrema-deireita como Pauline Hanson são os campeões em usarem o tema como muleta plataforma de atuação política na Austrália.
O Kon Karapanagiotidis, claro, bate de frente com essa gente praticamente todo dia. Bonachão e ultra-idealista, ele nasceu no interior do estado de Victoria de pais refugiados da Grécia e foi vítima de racismo durante toda infância e adolescência. Kon está sempre com um pires na mão em busca de doação para o ASRC, pois a organização não aceita recursos governamentais justamente para se manter independente e poder advogar junto ao poder público sem receio de retaliação. Raríssimo! Com isso, quem praticamente os sustenta é a comunidade.
Sabendo disso, dias atrás, a Amyl and The Sniffers, uma das melhores bandas de punk rock da atualidade, aproveitou intervalo entre as turnês pelos Estados Unidos e Europa e fez um show surpresa com lotação máxima no The Croxton, em Melbourne, sua terra natal.
Somando venda de ingressos e merchandising, o evento teve lucro de $13.884,25, que foi doado integralmente ao ASRC, dinheiro que os ajuda a oferecer serviços como alimentação, abrigo, assistência médica, educação e emprego, além de apoio jurídico.
Se você ainda não conhece a banda, ouça abaixo música do novo álbum, Cartoon Darkness, que será lançado em 25 de outubro.
Quer ouvir uma história inspiradora? O Kon conta qual é o livro que mudou a vida dele.
Foto da capa também de Danysha Harriott
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