Não. Obviamente, não virei corintiano a essa altura do campeonato. E, por campeonato leia-se a vida, e não esse Brasileirão insano que ninguém quis ganhar – exceto o Abel Ferreira.

Continuo mais são-paulino do que nunca, agora com o único título que faltava, mas com a ingrata missão de fazer o meu filho brasileiro, que já mora há mais tempo na Austrália do que no Brasil, ser são-paulino.

No momento, ele é são-paulino, Uruguai e Fluminense – necessariamente nesta ordem, segundo o próprio -, mas o problema por essas bandas é muito mais embaixo do que um mero dilema entre tricolores. A Austrália, como sabemos, não é chamada de down under à toa.

O primeiro desafio é fazer o filho (qualquer filho) gostar de futebol num universo dominado por Rugby League, críquete, AFL, Rugby Union (este só não está mais decadente do que o saudoso Botafogo), entre outras modalidades de menor destaque.

Nada contra nenhuma delas, pelo contrário, mas morando onde moramos, é mais fácil ele crescer torcendo para o Manly Warringah Sea Eagles, para o Sydney Sixers, o Sydney Swans ou para o New South Wales Waratahs, do que para um clube de futebol.

E aí vamos para o segundo grande problema, que é o fato de o único futebol disponível para ser assistido em horário minimamente decente aos finais de semana ser a modorrenta A-League, o campeonato australiano de futebol masculino que só não é mais chato do que um Coritiba x América-MG sob dilúvio com portões fechados, o Bráulio apitando e ambos já rebaixados. Não dá!

Jogos dos campeonatos disputados no Brasil, por aqui, são na parte da manhã. O filé nacional, por exemplo, que é a partida do domingo às 16h, em Sydney é na segunda-feira às cinco da matina quando não estamos em horário de verão. É muito mais fácil meu filho se apaixonar por pesca artesanal ou escalada – com todo respeito à pesca artesanal e escalada – do que por futebol via Brasil, o que naturalmente o afasta do Tricolor, seja ele qual for.

E nem mesmo a malígna Premier League ou os infernais Real Madrid e Barcelona, que vêm raptando mentes e corações infantis mundo afora fazendo potenciais vascaínos virarem merengues ou galoucos se tornarem torcedores do Tottenham, passam em horários aceitáveis. Crystal Palace x Liverpool, por exemplo, o primeiro jogo da rodada do próximo final de semana do Inglês começa às 23h30 do sábado. Tipo Corujão! E depois segue madrugada adentro (uma Sala Especial sem o Nuno leal Maia).

Consigo minimamente mostrar os gols do São Paulo no YouTube para o Martín ou mesmo que ele assista a um final de partida quando acorda. Mas é muito pouco. Para complicar a meia-cancha, a família materna é toda Fluminense e, no melhor estilo Felipe Melo, sempre o presenteia com adereços do Flu. Não seria um problema, se não fosse o drama desportivo local relatado acima, pois o que acaba acontecendo, no pior estilo Roma (o império, não o clube), é o dividir para reinar.

Mas como sou brasileiro e não desisto nunca, sempre haverá esperança!

Segunda-feira, por exemplo, vieram entregar a compra do supermercado. O rapaz subiu as escadas com as compras, me comprimentou – evidentemente em inglês -, o comprimentei de volta – evidentemente em inglês -, ele disse que desceria as escadas para buscar mais algumas sacolas – evidentemente em inglês -, perguntei se ele precisava de ajuda – evidentemente em inglês -, ele disse que não – evidentemente em inglês -, e perguntou – evidentemente em inglês -, de onde eu era. Respondi – evidentemente em inglês -, Brasil. O cara – agora em português:

– Brasil? Vai, Curíntha!

Gênio! É essa paixão que eu torço e cultivo para que o Martín tenha. Mas pelo Tricolor do Morumbi, claro!

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