Há pouco, saí para um rápido mergulho no mar. Era por volta das 19h, ventava muito e na água, exceto por dois banhistas fanfarrões, só havia surfistas. Achei mais prudente uma caminhada na areia, seguida de uma corridinha para, quem sabe, com o corpo mais quente, aquele revigorante tchibum. Caminhei, corri e, quando me dei conta, já estava no final da praia, próximo de um dos locais mais mágicos da redondeza, o headland de Long Reef.

Como o mar estava, literalmente, só para peixes, resolvi subir para contemplar a espetacular vista do local e, quem sabe, ver o sol se pôr. Cheguei ao topo, onde havia pouca gente, sentei com as pernas cruzadas num meio termo entre posição de lótus e de índio, respirei fundo algumas vezes e tentei ao máximo esvaziar a mente enquanto os olhos se perdiam em ondas, pássaros, pedras, raros surfistas, nuvens, moscas (sim, Austrália) e árvores.

Num determinado momento, veio muito forte um pensamento: Qual o próximo passo?

Não quis entrar nele, mas o achei interessante e resolvi, mentalmente, perguntar ali mesmo, três vezes: Qual o próximo passo? Qual o próximo passo? Qual o próximo passo?

Tap Tap Tap Tap Tap Tap

Eis que ouço, acreditem, passos, de uma senhora, toda curvada, carregando um minúsculo cachorrinho. Ela se aproximou e disse: Amigo, fica ligado pois parece que vem uma tempestade imensa aí. É mesmo, já começou em algum lugar?, perguntei. Ainda não, mas estou sentindo. E ela continuou andando em direção às pedras que terminam no mar, ignorando completamente o que havia me falado.

Olhei para os lados, não havia mais ninguém por ali. Depois olhei para trás e vi que tanto para noroeste quanto para sudoeste o céu já estava naquele sempre suspeito cinza-escuro-cor-de-burro-caso-não-foge. Quando olhei para frente, a senhora e o cachorrinho haviam desaparecido.

Não pensei duas vezes.

Por mais que a minha pergunta sobre o próximo passo clamasse por uma resposta metafísica, lembrei do vento que vem soprando na praia ininterruptamente desde 31 de dezembro, da tempestade que caiu pouco antes do Natal deixando minha irmã sem luz por três dias e a escolinha do meu filho fechada por quatro, da Lua em Peixes se unindo a Netuno em tenso aspecto com Marte em Sagitário e Tap Tap Tap Tap Tap Tap, em pouco tempo dei o meu famigerado mergulho, no chuveiro de casa.

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